DÍPTICO CIVIL
DÍPTICO
CIVIL:
O perdido poeta Wladimir, por João Niehues |
I
− REGISTRO GERAL
O número é o mesmo, desde o dia
em que o recebi, sem questionar.
Meu número: sem numerologia,
grudou-se, grudou-se em mim! Sorte? Azar?
Não sei. Sei que me lembro das mãos pretas
com que fiquei, tão sujas!, pra deixar
as minhas digitais nas tabuletas
e que não foi “poeta” − ao perguntar
a profissão, o que lhe declarei
− àquela, também
ela, funcionária...
E lá estou... Aguardo Wladimir
− o novo, numerado, menos pária!
Aquele que não vem, mas o que hei
de ser quando depois chegar a vir.
Retrato, por João Niehues |
Mas novamente vou sujar a mão:
mais uma vez, a cívica imundície.
E mesmo dessa vez eu não lhe disse
o nome dessa outra profissão
que se quer titular, sendo vice,
e teima em não ser hobby, mas que não
consegue se fazer de ganha-pão,
e se cala e se chama de tolice.
Segunda via: dessa vez tem taxa
pra novamente se melar de graxa
e confirmar um número e seguir.
Que fazer, porém? Se não se acha
nas gavetas − no fundo de uma
caixa −
o perdido poeta Wladimir!
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