VENDE-SE (PREGÃO ACIDENTAL)
Vende-se esta fazenda
sem as dores, hectares
somente, e na Soares
Lopes (Centro), vende-se
um ventiladoapartamento
(frequentado pelo vento)
sem ninguém olhando o mar
Pois se vende agora tudo
que foi sonho de ficar:
todo um sul que desaprende
o seu norte de comprar
se o cacau, de pouca renda,
não sustentando a fazenda,
levanta o letreiro no ar:
VENDE-SE ESTA FAZENDA
com pasto, curral, muar,
e cocho, barcaça, moenda
− isso não tem, é por rimar;
só terá talvez ainda
uma vista de outro mar:
o de uma Atlântica Mata
que no céu vai naufragar
enquanto, novos tropeiros
nonsenses, a debandar,
à falta de burros, veleiros,
vão ilheenses voar
por um perseguido janeiro
que tentam atocaiar:
cidade de veraneio,
loteada como está,
embora o sol não se venda,
e falte sem avisar;
embora seja barrento
perau, o mar de afogar.
Mas se querem liquidez,
logo aceitam trocar
por qualquer afogamento
o morar e o plantar;
que se venda o apartamento
de vez, a fazenda e o mar
que se avista, praia Atlântica
ou Mata – mas não se matar.
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