PAREIDOLIA
Vi o rosto que primeiro
morou, sonhou com a sanca,
ou o rosto do pedreiro
naquela parede branca?
Mordi o rosto sem queixo
mas com as maçãs que a mão
talhou, do próprio padeiro,
ou pé do demo no pão?
Rostos de mofo e de mofa,
de vislumbre ou sugestão,
sempre os tive: tecelão
atado à almofada, ao sofá,
oleiro entranhado em vaso,
carpina em cambau à porta:
um rosto que traz o acaso,
ou artes da moura-torta?
Sempre voltaram, contudo,
a meu desgosto pregresso:
madeira, argila, veludo,
a massa do pão e o gesso.
Ergui meus olhos à nuvem,
lasso de rosto que passa...
Verônica ao vento, agônica,
sudário que o azul esgarça,
o eterno, se ela mo dava
era quando rosto amorfo!
Nos trapos que eram os cirros,
o rosto roto do Cristo.
Desenho por Felipe Stefani |
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