LEQUES [DA SENHORA E DA SENHORITA MALLARMÉ]



LEQUE 
[da Senhora MALLARMÉ]
Se a mesma língua fala
Só do que sobe ao céu
O verso a vir exala 
Do abrigo certo e seu
Dá um rasante de pombo-
Correio, o leque – e é só
O que atrás do teu ombro
Fez no espelho um reflexo
Límpido (onde baixa
Escassa e esconsa cinza
Cujos grãos não se acha
Só para eu ser ranzinza).
Sempre assim entre em liça
Entre as mãos sem preguiça.

Eventail
[de Madame Mallarmé]
Avec comme pour langage
Rien qu'un battement aux cieux
Le futur vers se dégage
Du logis très précieux
Aile tout bas la courrière
Cet éventail si c'est lui
Le même par qui derrière
Toi quelque miroir a lui
Limpide (où va redescendre
Pourchassée en chaque grain
Un peu d'invisible cendre
Seule à me rendre chagrin)
Toujours tel il apparaisse
Entre tes mains sans paresse.


Femme avec éventail, desenho de João Niehues.



















OUTRO LEQUE [DA SENHORITA MALLARMÉ]

Sonhadora, para que eu pule
Ao bel-prazer sem direção
Aprende, com manhas de tule,
A ter minh’asa em tua mão.
Vem-te uma aragem de poente
Se cada abano com o engaste
De um golpe delicadamente
Faz que o horizonte se afaste.
Vertigem! Eis convulsiona
O espaço como um beijo imenso
Que, doido por nascer sem dona,
Não pode ter paz nem ascenso.
Um paraíso arisco a toca
Tal como um sorriso inumado
Pingando do canto da boca
No fundo comum do plissado!
É cetro das ribeiras róseas
Em noites de ouro, e morrentes,
O que de voo fechado pousas
Branco nos ígneos braceletes.

Autre Eventail (de Mademoiselle Mallarmé)
Ô rêveuse, pour que je plonge
A,u pur délice sans chemin,
Sache, par un subtil mensonge,
Garder mon aile dans ta main.
Une fraîcheur de crépuscule
Te vient à chaque battement
Dont le coup prisonnier recule
L'horizon délicatement.
Vertige ! voici que frissonne
L'espace comme un grand baiser
Qui, fou de naître pour personne,
Ne peut jaillir ni s'apaiser.
Sens-tu le paradis farouche
Ainsi qu'un rire enseveli
Se couler du coin de ta bouche
Au fond de l'unanime pli !
Le sceptre des rivages roses
Stagnants sur les soirs d'or, ce l'est,
Ce blanc vol fermé que tu poses
Contre le feu d'un bracelet.

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