A DONA DO ANO NOVO

                                    Para Angela Maria Amaral Nunes, a sua história.

A noite igual:
negra
e mentolada.
Munch, Girl Looking out the Window,
oil on canvas, c. 1892
Abriu janelas pro quintal
e não viu nada
nos eucaliptos, de especial.

Voltou à sala:
branca
e agitada.
Que foi, menina? Diz em qual
lugar estava
que não viu fogos, a cascata?

Respondeu nada.
Rubra
e sem palavra,
sentiu-se fria e noite igual
e mentolada,
igual a todas, no quintal.

Hoje, tal e qual,
branca
e agitada,
claro que sabe, é tudo igual,
na madrugada
do Ano Novo, do Natal,
The Waiting by Nikiphoros Lytras
 (Greek, 1832 - 1904)

de qualquer data.
Chega,
dá uma olhada
lá da varanda, é natural:
lugar, palavras,
e a cascata, ou chuvarada

– mas não vê nada.
Negra
(e rubra e al),
eis convolada
a noite igual em especial
e mentolada:
os eucaliptos do quintal.

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