ONDE CECÍLIA PARTICIPA DE UMA PESCA
Estes não são peixes − mas como não pescá-los?
Soube de um haras com cavalos afogados.
Como não salvá-los, a rede na piroga,
bateau ivre na enchente – mas Cecília não se afoga
e volve à terra crinas, cascos, um relincho
− o susto dos cavalos – mas é rede ou guincho? −
e para constatar, saber logo em seguida
que os cavalos são outros, Cecília: coisa ida
e que não trota mais, figuras que reúno
aqui, neste papel: o alazão, o libuno,
o baio, o zaino − como peixes, que não fossem
amigos da água: multicores, dando coices!
E se da terra já não for o que é terrestre
e se chorar esguichos, uma estátua equestre,
são lágrimas, Poeta, e não do cavaleiro
que proclama ou liberta, imóvel e certeiro,
mas do centauro em que me gasto, o centauro
errático, inútil: neste em que me exauro
de pescar tritões!... – mas, como não pescá-los?
Era um haras, soube. E afogados, seus cavalos.
(De "Lume Cardume Chama".)
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