É UM CASACO

É um casaco que me teci
de fomes avessas à saciedade.
E se eu emagrecer
como tantas vezes se deu, apesar,
serei então o despojo dessa acuidade,
osso e nervo sob o magro,
mendigo andrajoso a quem sequer
dariam um cobertor. E outro ainda
na figura instável
sob vigilância contra a nova engorda.
E de perto é a distorção dos hipermétropes
e a dos míopes na distância
e eu muito gordo nas estrofes
e muito magro nas assonâncias!
É  um casaco. Um grosso e felpudo
casaco de fomes avessas,
tecido em malha miúda sem pressa
e se eu emagrecer
será um casaco ainda
como os dos maníacos ou febricitantes
e você me dará parabéns
mas é um casaco -
o casaco folgado de antes.

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