RETRATO DO PAI AUSENTE EM TÉCNICA MISTA (desenho: Felipe Stefani; voz: João Filho)
Cavei-o
em alto relevo
para
fazê-lo carimbo:
assim,
a xilogravura
tirou-o
primeiro do limbo;
foi
como cavar em cavacos
o
dia, que ele me dera,
para
avultar os seus traços
de
anoitecer tinta negra.
Fiz
alguns pais de sucesso
com
minha boa matriz;
mas,
artesão, o meu preço
não
pagava um só que fiz.
Quando,
após umas provas,
só
se mostrava opalino,
sonhei-me
artista co’as novas
feições
de quase menino
e
aproveitei as mais claras
para
fazer uma encáustica:
cera
quente na espátula
que
garantisse umas caras
duráveis,
como de antigas
urnas
que há, funerárias;
lá
onde a cera aglutina
pais
de nobrezas várias.
Mas
eis que minha encáustica
logo
ficou craquelada:
faltou
dâmar, ou nobreza
na
dama que é minha espátula?
Ora,
assim como um restauro,
pintei
a óleo seus veios:
o
craquelê dos receios
compôs,
fiel, um mosaico
sobre
que apliquei verniz
(mais
por não se soltasse
do
que para dar matiz
de
brilho na tal da face)
e,
logo que foi seco
o
ausente em técnica mista,
pus
a vender o meu treco,
mas,
ai! Eu não era artista.
Por
isso aqui o penduro,
a
ver se agrado um olho:
xilogravura,
restauro
de
si, encáustica e óleo,
eu
dou até de presente,
se
nunca mais tive paz;
levai
o meu pai ausente,
pois
já tentei aguarrás.
Ouça também na voz de Pedro Sette-Câmara:
Ouça também na voz de Pedro Sette-Câmara:
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