ARS ALÉRGICA
“Sim, você pode ter bicho
− mas sem abraçar muito.”
(Aprenderia a amar de longe
ou espirrar para dentro.)
Começou no dia em que
pegou nuns cogumelos...
Até se saber, foi tempo.
No fim do século, quando
surgiram aqueles gnomos,
já provara o sortilégio
de tantas coceiras e inchaços...
Somente uma coisa boa:
não era, não era asma!
Só o mundo, coisa pasma
lhe dando urticárias nos olhos,
estreitando seus bronquíolos...
(Pólen, fumaça, fungo
− em tudo agora recolho
indícios do que seriam
a flor e o fogo: o mundo.)
E nadou como obrigado
porque nadar era bom;
e teve pena do cágado,
bicho da terra com
só a missão de purgar
o ar do menino, o ar
(e que alquimia mudar
os elementos de tom!)
Vacinas, vapores, unguentos
e muitos abraços teimosos
no gato, cansaram os ácaros
e os mais loucos eosinófilos.
(Maldito desde o Levítico,
ficou só o camarão
para o anti-histamínico ou
mucolítico sempre à mão.)
Alegria? Ora, a alergia
iria para a linguagem:
mentol virando placebo,
corticoide que não reage!
O mundo, que além das vacinas
e tantas nebulizações
agride ainda, quintina
teimosa de mil camarões
súbito quer poesia,
lição do menino de ontem:
doendo, espirrar para dentro;
amando, abraçar de longe.
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