Inquisições no Museu
De Arte Sacra e saqueado,
seus poucos santos sobrados
fazem pensar nos ladrões.
Mais turista que prelado,
entre um nicho e outro vago,
começo as inquisições:
perdoada, Madalena,
mereceu condenações?
E Cecília, santa mártir,
foi salva, de sua parte,
pelas poucas devoções?
De Teresa, confidente,
não viram, no olhar ausente,
o êxtase das visões?
São Francisco, despojado,
mais pobre que o desejado,
inspirava abnegações?
As hipóteses latejam
no tabuado que estala:
atraso em manutenções.
Do claustro, o jardim no centro,
nivelado com cimento,
enclausura florações.
É a mesma ignomínia
de uma reforma faminta:
certa pia de alumínio
no salão de refeições.
No museu dilapidado,
outrora convento e igreja,
não há quase que se veja:
só vazio, por todo lado
− rarefeitos encontrões.
Um Senhor Morto, deitado,
sem o féretro esperado,
semelha o Crucificado
sem madeiro, que roubaram
essas outras legiões:
braços abertos no ar
ou pendidos, par em par,
aguardam fortes ladrões:
são pesados de levar?
São leves ressurreições!
Amo sua poesia. Wladimir, leve, reflexiva. Para mim seu texto sempre é encantador. Obrigada, vc faz aniversário e nos presenteia. Lindo.
ResponderExcluirObrigado, Marta! A poesia é um presente que só vale partilhado -- e melhor com quem a recebe de braços abertos. Abração!
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